NOVO MANIFESTO PELA FEDERALIZAÇÃO DOS CRIMES DE MAIO, E FIM DA "RESISTÊNCIA SEGUIDA DE MORTE"

quinta-feira, abril 21, 2011

quarta-feira, abril 20, 2011

Onda de Violência preocupa região (TV Record de Santos e região)

Salve!

Conforme nós tínhamos alertado, a situação na Baixada Santista segue calamitosa. E não tem sido por falta de denúncia e de aviso das Mães de Maio e de diversos movimentos sociais que o cenário de barbárie permanece, sem qualquer perspectiva de melhora...

É preciso que algum instância (Federal?!) tenha a autoridade e a coragem para desbaratinar o que os agentes do Estado de São Paulo e os grupos de extermínio têm feito na região.

Assistam a matéria de ontem na TV Record: http://www.recordsantos.com.br/videos-play.asp?video=0419_ESP_ENTERRO_ATENTADO.FLV&programa=SP%20RECORD&data=19/04/2011&titulo=Onda%20de%20viol%C3%AAncia%20preocupa%20a%20regi%C3%A3o.

Seguimos firmes e atentas!

MÃES DE MAIO

segunda-feira, abril 18, 2011

1 ANO DOS "CRIMES DE ABRIL": PASSEATA E MISSA


Rafael Sousa, assassinado pela polícia no final de Março de 2010 na Baixada Santista

Marcos Paulo e Xymiro, assassinados pela polícia em Abril de 2010 na Baixada Santista


Salve Companheir@s!

Convidamos a tod@s para participarem das atividades que realizaremos em razão do Aniversário de 1 ano dos terríveis Crimes de Abril de 2010.

NESTA QUINTA-FEIRA (21/04), A PARTIR DAS 15HS, realizaremos uma PASSEATA EM HOMENAGEM ÀS VÍTIMAS DOS CRIMES DE ABRIL DE 2010. A concentração da marcha será às 15hs em frente ao Bar Marrocos, no Gonzaguinha (São Vicente-SP).

E ÀS 18:00HS OCORRERÁ A MISSA DE UM ANO DA MORTE DE RAFAEL, MARCOS PAULO E XYMIRO, NA IGREJA NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS (São Vicente-SP).

Contamos com a presença de tod@s lá!

Familiares das Vítimas dos Crimes de Abril de 2010

MÃES DE MAIO, MÃES DE SEMPRE!

quarta-feira, abril 06, 2011

MÃES DE MAIO NA BAGDÁ SANTISTA!



Desenho feito pelo nosso parceiro Latuff, especialmente para as Mães de Maio


Salve a tod@s parceir@s!
ATENÇÃO: Queríamos registrar o seguinte.

Ontem enviamos um Aviso Geral a tod@s "autoridades" ditas competentes sobre a situação que enfrentamos, nesse momento, na periferia da Baixada Santista. Apesar da urgÊncia da questão, nenhuma resposta até o momento. Mas que fique registrado nos autos da História e para toda a Sociedade o nosso recado:



Durante o mês de Maio de 2006, no estado de São Paulo, policiais e grupos paramilitares de extermínio ligados à PM promoveram um dos mais vergonhosos escândalos da história brasileira. Com destaque especial à Capital, a Guarulhos e às cidades da Baixada Santista (que proporcionalmente foram os locais com mais executados). Em uma cínica e mentirosa “onda de resposta” ao que se chamou na grande imprensa de "ataques do PCC", foram assassinadas no mínimo 493 pessoas - que hoje constam entre mortas e desaparecidas. A imensa maioria delas - mais de 400 jovens pobres e negros – executados sumariamente. Sem dúvida, o episódio que ficou conhecido como Crimes de Maio foi o maior Massacre da história brasileira recente!



Ao longo dos anos de 2008 e 2009, a Baixada Santista foi a região do estado de São Paulo onde os homicídios mais cresceram, verdadeiras estatísticas de guerra!



Durante o mês de Abril de 2010 a Polícia Militar e grupos paramilitares de extermínio ligados a ela voltaram a atuar na Baixada Santista, no mesmo estado de São Paulo, executando sumariamente 27 pessoas num curto espaço de 10 dias. Informações apuradas pela própria Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo atestaram que estes policiais e grupos de extermínio seriam ligados à máfia chamada OS NINJAS (vejam em anexo abaixo como eles agem), grupo de extermínio de policiais encapuzados auto-denominados “justiceiros” que têm atuado desde Maio de 2006 impunemente. Nas favelas e bairros periféricos da Baixada, àquela altura, corria abertamente o boato de que a lista completa daqueles Crimes de Abril seria de 51 pessoas. Uma lista que, felizmente, parou na metade graças aos gritos e às denúncias das Mães e Familiares que alertaram para o novo massacre em curso. As devidas investigações e punições, porém, mais uma vez não avançaram...



Agora, ao entrarmo no mês de Abril de 2011, um novo massacre vem sendo anunciado - e acaba de começar a ocorrer - na Baixada Santista. As Mães de Maio, familiares e amigos, já vínhamos alertando sobre o crescente clima de tensão sentido em nossos cotidiano nos últimos dias. Fizemos isto em uma reunião registrada em vídeo no Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo na semana passada, e esta denúncia foi reverberada pela companheira-presidente do GTNM-SP, Rose Nogueira, ontem (04/04), na entrega de seu título de Cidadã Paulistana na Câmara Municipal de SP.



Nesta mesma madrugada: dito e feito! Aquilo que prevíamos e denunciávamos está voltando a acontecer. Uma primeira chacina nesta madrugada matou, ao menos, 5 pessoas (entre adolescentes e senhores) no município de Praia Grande - conforme notícia abaixo. Há no entanto informações desencontradas de que seriam 10 o número de mort@s desta noite, tendo alguns corpos sido ocultados. Isso tudo está acontecendo aqui-agora, na calada da noite, nos becos e vielas e palafitas aonde a Verdade da democracia come solta! Nós estamos apenas reportando aos Srs. e Sras. aquilo que vivemos cotidianamente.



Nós, Mães de Maio, insistimos que não estamos de brincadeira! E não vamos deixar também que se continue brincando com as vidas de nossas crianças, nossos adolescentes e jovens de nossas famílias moradoras de bairros periféricos e favelas! Esta foi mais uma noite que não conseguimos dormir, nenhuma de nós, por conta da tensão e da premonição de novas desgraças - tão anunciadas previamente por nós a todas as ditas autoridades competentes. E dito e feito! Dito, e NADA feito!



Rumo ao 5º aniversário dos Crimes de Maio de 2006, é preciso urgentemente dar muitos passos, concretos: superar novas barreiras simbólicas, políticas e jurídicas. Uma sociedade realmente democrática não se constrói sem encarar todo o seu Passado, sem assimilar toda sua Verdade Histórica. Sabemos que no Brasil há uma blindagem pesada feita pelas elites civis e militares para isto não acontecer. Entretanto, diante de todo este poder opressivo imposto pelo dinheiro, pelas mídias e pelas armas, nós não nos intimidamos! Os Senhores e Senhoras se intimidam?! Há Vontade Política para Encarar estas Verdades Recentes?!



A luta pelo Desarquivamento e pela Federalização das investigações dos Crimes de Maio insere-se nesta tradição de resistência d@s oprimid@s que lutaram e lutam pela Memória, pela Verdade e por Justiça, em relação a todos massacres históricos. Ou não?! Ou os milhares de mort@s dos dias de hoje têm menos valor que as centenas de mort@s vítimas do terror da ditadura - a quem sempre temos sido solidárias?! Que democracia é esta na qual uns valem muito mais do que outr@s?!



Sem uma apuração ampla, geral e irrestrita do Crimes de Maio de 2006 e dos Crimes de Abril de 2010 (grande parte deles provocada pelos mesmos grupos de extermínio), as tragédias de Abril de 2011, 2012, 2013, 2014... serão cada vez maiores! Estamos voltando a avisar com amplo testemunho de todos os Senhores e as Senhoras, em cópia aberta.



O tempo urge: e estamos cansadas de bravatas e falações! Elas apenas custam mais vidas! Queremos atitudes concretas, urgentemente! E que fique escuro: não adianta pedir o envio de mais dezenas e dezenas de viaturas para descerem a Serra, para a Baixada Santista, pois sabemos que isso só piora o Terror vivido por nós! Os Grupos de Extermínio são ligados à Polícia, isto está mais que provado. Só falta a Justiça se mexer.



Quantas vidas mais será necessário nós perdermos para que se ampliem investigações corretas, façam-se inquéritos decentes e apliquem-se as devidas punições aos responsáveis? Quantos anos mais teremos que esperar para ver um inquérito sequer sendo corretamente apurado, trazendo à tona a Verdade e punindo Justamente os Responsáveis? Dos cerca de 500 assassinatos de 12 a 20 de Maio de 2006 não temos um policial sequer devidamente julgado e punido até hoje, em plena "democracia"!



Exigimos, por favor, encaminhamentos concretos dos Senhores e das Senhoras, conforme as respectivas atribuições profissionais, políticas e humanas que a cada um compete. Que estes encaminhamentos sejam compartilhados abertamente aqui para esta mesma lista, para que tod@s tenham ciência do procedimento de cada um diante destes Crimes contra a Humanidade.



Bem-vind@s à Bagdá Santista!



Inconformadamente,



Mães de Maio da Baixada Santista



PS: escrevemos esta mensagem enquanto helicópteros da Polícia, neste exato momento, sobrevoam nossas casas, aqui, na periferia da Baixada Santista. É assim que é!






SÉRIE ESPECIAL SOBRE OS 4 ANOS DOS CRIMES DE MAIO (incluindo entrevista com membros dos Grupos de Extermínio):












terça-feira, abril 05, 2011

Mães alertam para novas ações de Grupos de Extermínio na Baixada


Há exato 1 ano os Grupos de Extermínio ligados ao Estado mataram, ao menos, 26 pessoas na Baixada Santista - no episódio que ficou conhecido como "Crimes de Abril de 2010".

Agora estamos alertando que há muitos indícios de que estes mesmos Grupos estão voltando a agir.

As Mães de Maio têm alertado e ficado em cima exigindo investigações e a devida punições dos responsáveis. O Estado se faz de rogado, e está brincando com as vidas do povo da Periferia.

Quantas mortes mais serão necessárias?! Até quando?!

Mães de Maio


Terça-feira, 5 de abril de 2011 - 09h30

Noite violenta

Bandidos conseguem matar três e ferir outros três em Praia Grande

De A Tribuna On-line



Praia Grande, mais uma vez, registrou uma noite violenta. Em um intervalo de aproximadamente 45 minutos, cinco pessoas foram baleadas por homens não identificados. Três delas não resistiram aos ferimentos e, mesmo socorridas, morreram. Uma das vítimas fatais era um adolescente, de 16 anos. O amigo, de 15 anos, também está entre alvos dos disparos.

Houve ainda uma tentativa de homicídio a facadas, ocorrida cerca de uma hora antes dos atentados a tiros entre o final da noite de segunda e a madruga desta terça-feira. As investigações estão a cargo dos policiais civis da Delegacia Sede da Cidade. Ainda não existem informações sobre suspeitos e as motivações dos crimes que, segundo o apurado, podem não estar relacionados.

Reprodução/TV TribunaÀs 23h40, na Vila Mirim

Cristiano da Luz Coelho, de 22 anos, foi morto ao ser atingido por dois tiros na Rua Casemiro Doncev. Um dos projéteis ficou alojado na cabeça dele. A vítima entrou na emergência do Pronto Socorro do Quietude já morto. No local do crime foram encontradas quatro cápsulas calibre 9 milímetros.



Reprodução/TV TribunaÀ 00h04, no mesmo local


Ronaldo Adriano Lima de Moraes, de 36 anos, foi morto, e Carlos Leandro da Silva Barbosa, de 18, ficou ferido em uma ponte sobre um canal na Avenida Arnaldo Perticarati. Testemunhas disseram à polícia que uma dupla armada em uma moto vermelha passou pelo local e efetuou os disparos. O perito encontrou três cápsulas 9 milímetros.


Reprodução/TV TribunaÀ 00h25, no Canto do Forte

A última ocorrência da noite envolveu dois adolescentes. O jovem Gabriel, de 16 anos, foi executado com cinco tiros, e o amigo dele, Jonatas, de 15 anos, ficou baleado. Ambos estavam na calçada da Rua Marcílio Dias e foram surpreendidos pelos disparos. O primeiro chegou a ser socorrido no Pronto Socorro Central, mas morreu instantes depois.

Tentativa de execução a facadas

Antes dos crimes, às 22h30, Ismael Inácio dos Santos, de 42 anos, quase foi executado ao ser esfaqueado por um homem não identificado no Bairro Caiçara. Depois de se envolver em uma briga, ele foi perfurado apenas uma vez na região do tórax.

Ismael está internado em estado grave no Pronto Socorro Central da Cidade. Os jovens Carlos e Jonatas, ambos alvos dos disparos, também permanecem em atendimento nos hospitais da região sem risco de morrer.

Concentração máxima no Fórum da Barra Funda


Salve Gegê, Compa Guerreiro!

As Mães de Maio estão atentas e juntas até o fim, passo a passo, até a sentença de Liberdade (que já demorou para ser pronunciada) em seu Julgamento Jurídico. Estamos absolutamente certas, e na real exigimos!, que termine logo mais esta farsa do sistema, este pesadelo que tanto sofrimento injustificável já causou pra Você e para todos os seus. Para tod@s nós. Afinal sabemos que no verdadeiro Julgamento da História, ao contrário da miserável sociedade capitalista que vivemos, a Verdade e a Justiça prevalecem. Só que aqui-agora, no cotidiano, estas dão mais trabalho pra serem Conquistadas...

Toda sua História de Luta, Guerreiro, diz por si só sobre o tamanho da Injustiça que querem cometer contra você. Mais uma. Mais um absurdo. E desta vez pegando bem pesado em toda armação. Sabemos que as Elites e o Estado mostram todas as suas garras frente a um Negro Paraibano que Ousou Levantar-se contra a Opressão e a absurda existência de milhões de Sem-Teto pelo país. Pobre consciente e organizado é um Perigo! Por isso sabemos que a ofensiva contra você é Política, como Política tem sido toda a Ofensiva Genocida contra o restante da população Pobre, Nordestina e Negra de todo o país. A mesma ofensiva que vitimou noss@s filh@s.

Mas Unid@s somos mais Fortes, Guerreiro: Unid@s somos Mais!

Tâmo junto até o Fim, Compa Gegê! E não nos calaremos frente a qualquer outra decisão jurídica que não seja a garantia ampla, geral e irrestrita do Fim deste seu Sofrimento!

Respire fundo, erga ainda mais a Cabeça, que a partir da sua Absolvição, em breve, muitas outras Lutas Coletivas vamos seguir trilhando Junt@s!

Até esta Vitória! Logo mais!

Mães de Maio



Concentração máxima no Fórum da Barra Funda

Movimentos sociais, sindical, estudantil e parlamentares ocupam na tarde desta segunda-feira (4/4) o Plenário 4 do Fórum Criminal da Barra Funda para acompanhar o juri e prestar solidariedade a Gegê. A sala com cerca de 50 lugares está lotada. Do lado de fora do Fórum defensores de Direitos Humanos mantêm vigília.

Os deputados federais Ivan Valente, Paulo Teixeira, Janete Pietá, a vereadora Juliana Cardoso, Jamil Murad e o ex-vereador Beto Custódio estão no Plenário. Estão presentes também representantes da Central de Movimentos Populares de Minas Gerais, Brasília e Ceará.

O juri começou com atraso. Estava previsto para às 13h, mas a sessão foi aberta por volta das 14h30. Neste momento o senador Eduardo Suplicy faz a defesa de Gegê, é a primeira testemunha a falar. Logo após as testemunhas de acusação terão a palavra e em seguida novamente as de defesa serão escutadas.



DOMINGO, 3 DE ABRIL DE 2011

Depois de oito anos impedido de viver com dignidade, Gegê já se diz condenado
Matéria publicada por Rede Brasil Atual (2/04)

A poucos dias de ir a júri popular, por um crime que, garante, não cometeu, Luiz Gonzaga da Silva, o Gegê, teme que sua liderança popular seja mais uma vez criminalizada. "Depois de me ver envolvido (num crime) sem sentido nenhum, porque eu não estava no local quando houve a desavença, eu não devo, mas temo", indica. "Querem calar a voz de quem não tem cidadania garantida", prossegue.

Gegê é uma das lideranças do Movimento de Moradia no Centro (MMC) e da Central de Movimentos Populares. Nesta segunda-feira (4), ele vai a júri popular, sob a acusação de, em 2002, dar carona ao assassino de um homem que morava no acampamento sob coordenação do MMC, próximo à avenida do Estado, na capital paulista.

O primeiro julgamento do caso estava marcado para setembro de 2010, mas foi adiado a pedido do representante do Ministério Público, responsável pela acusação. O promotor alegou que não conhecia todas as provas apresentadas pela defesa.

Em entrevista à Rede Brasil atual, Gegê disse que já se sente condenado há oito anos por um crime que não cometeu. "Para mim, já estou condenado depois de oito anos sem poder viver dignamente", diz.

"Eu jamais, jamais me permitiria tirar uma vida, ou dar carona no meu carro, a alguém que fizesse isso", afirma. "Na minha vida, a vida tem valor e não tem preço. Até um assassino deve pagar mas com a vida, vivendo longamente para pagar o que fez", sentencia.

Gegê conta os dias com esperança de virar a página dessa parte de sua vida, de prisões, acusações e injustiças, declara. "Tenho esperança ao avaliar que os jurados possam perceber que as acusações são na verdade contra a classe trabalhadora", apontou em entrevista à Rádio Brasil Atual. "Sou um cidadão indo a júri sem saber o porquê", lamenta. "Estou ansioso, sem dormir, nunca vi um júri", descreve.

Segundo a defesa, o autor do assassinato é conhecido e identificado, mas nunca foi preso nem processado. O nome não é mencionado, mas a situação reforça o argumento de que se trata de perseguição. "São muitos anos e até hoje isso não foi tirado a limpo", lembra.
Gegê é irmão do cantor e compositor Chico César e tem uma longa trajetória de militância social e sindical, como um dos fundadores da Central Única dos Trabalhadores (CUT), do PT e dos movimentos de moradia, acredita que, em parte, a acusação surgiu por sua ação contra o uso de drogas nos acampamentos do movimento. "Não admitimos drogueiro e drogados, nem violência contra mulheres e crianças."

Um grupo pequeno, segundo ele, que não fazia parte inicialmente do acampamento, mas que "foram chegando" ao saber da concessão do terreno pelo governo do estado, discordava da filosofia do acampamento. Eles teriam aproveitado o crime para desacreditar a liderança do movimento.

José Roberto, o homem assassinado, tinha histórico de alcoolismo e teria provocado um visitante que visitava o sogro no acampamento do movimento de moradia. Uma semana depois, o visitante retornou e matou José. "Dizíamos: bebeu não entra, mas ele pulava o muro e entrava", conta Gegê. "Ele dava muito trabalho para a coordenação local do movimento devido à embriaguez e acabou mexendo com o homem que o matou."

Embora o crime tenha acontecido em 2002 e no momento o líder sem teto não estivesse no local do crime, em 2004 ele foi preso, acusado de coautoria do crime, por uma suposta carona ao assassino de José.

QUESTÃO DOLORIDA

O acampamento onde houve o crime foi formado também em 2002, depois da desocupação de forma negociada com o governo estadual de São Paulo, do prédio do Banco Nacional, já falido, lembra Gegê.

O então governador, Mário Covas, concedeu um terreno próximo à avenida do Estado para o assentamento de 100 famílias. "Na área só havia sujeira e um esqueleto (de prédio). Nós limpamos em três dias e construímos alojamentos provisórios para o pessoal da desocupação", narra Gegê.

Em pouco tempo, outras famílias chegaram até que foi preciso limitar a construção de barracos. "Um grupo queria mais barracos, mas a luta é para o resgate da cidadania e da dignidade", relembra o militante. Pessoas externas ao movimento e que passaram a morar no acampamento discordavam das regras rígidas quanto a drogas e bebidas, mas, segundo Gegê, sempre houve uma convivência de respeito. "Quanto mais se enfavela, menos cidadania e dignidade as pessoas têm", ensina. Universitários também passaram a estudar o terreno e formas de viabilizar moradias nas áreas.

No dia do crime, Gegê chegou horas depois do assassinato e encontrou o irmão da vítima na entrada dizendo que ele não poderia entrar, porque se não morreria também. Policiais também já chegavam ao local, passaram pelo militante e em seguida retiraram o corpo. Naquele 8 de agosto de 2002, o líder do movimento dos sem teto do centro estava em uma ocupação na rua do Ouvidor, 63.

Depois da retirada do corpo, Gegê entrou no acampamento para ajudar uma mulher que passava mal e precisou ser levada ao hospital. O fato foi descrito no processo como se ele tivesse dado fuga ao agressor.

Em 5 de abril de 2004, Gegê foi a uma delegacia como testemunha da prisão de um bêbado, quando soube pela delegada que era procurado e detido no mesmo instante. Ele ficou preso por 51 dias. "Essa é uma questão dolorida. Nunca imaginei ir ao banco dos réus por um crime que jamais me permitiria cometer", diz emocionado.

Desde sua prisão e do surgimento da acusação, militantes dos movimentos sociais criaram o comitê Lutar não é Crime com uma campanha nacional pelo fim da criminalização dos movimentos sociais e populares.

O julgamento do ativista ocorre na segunda-feira (4), a partir das 13 horas, no Fórum Criminal da Barra Funda, e deve estender-se até a terça-feira.

sexta-feira, abril 01, 2011

6 Anos da Chacina da Baixada: o "31 de Março" e a periferia não podem ser esquecidas!


Na noite do dia 31 de março de 2005, quando se completavam 41 anos do golpe militar de 1964, policiais militares iniciaram uma série de assassinatos em Nova Iguaçu e só terminaram a ação em Queimados. No total, 29 pessoas morreram e somente uma conseguiu sobreviver. Foi a maior matança realizada por agentes do Estado até hoje no Rio de Janeiro de uma só vez, teve intensa repercussão nacional e internacional, e ficou conhecida como a Chacina da Baixada.

A mobilização da sociedade a partir desse massacre, principalmente dos familiares das vítimas e organizações defensoras dos direitos humanos, obrigou o Estado a fazer o que geralmente não acontece quando se trata de crimes cometidos por grupos de extermínio: investigar e chegar a alguns dos culpados. Dos 11 policiais diretamente envolvidos, apenas 5 foram julgados, 4 foram condenados e 1 foi absolvido, e mais um, beneficiado pela chamada ?delação premiada?, foi assassinado na prisão por seus ex-comparsas.

Os outros não foram julgados, e nenhum mandante ou chefe do grupo de extermínio do qual os condenados faziam parte foram investigados, embora tenha sido formada, logo após a chacina, uma suposta comissão de nível federal que deveria investigar a fundo os grupos de extermínio atuantes na Baixada Fluminense.

Em conseqüência, embora tenha sido uma vitória da mobilização popular os julgamentos e condenações, o quadro de violência, matanças e impunidade nessa periferia do Grande Rio não se alterou significativamente nestes seis anos. De certa forma se agravou, pois enquanto a propaganda e as ilusões em relação às Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) alimentam a idéia de que há uma nova realidade de segurança pública no Rio, a extrema violência que prossegue em regiões periféricas como a Baixada, a Zona Oeste do município do Rio e São Gonçalo/Itaboraí, ficam esquecidas pela grande imprensa e por grande parte da chamada ?opinião pública?.

Deve-se lembrar, aliás, que é para essa periferia pobre, carente dos serviços públicos mais básicos, e esquecida pela mídia, que os atuais projetos de remoção de comunidades, estimulados pela especulação imobiliária desencadeada pela próximo realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas, querem levar ainda mais pessoas pobres. Pretende-se, dessa maneira, aprofundar a construção de uma metrópole segregada e dividida, onde a maior parte da população (a parte pobre) viveria em regiões distantes, abandonadas e ?invisíveis?.

É por isso que os familiares das vítimas da Chacina da Baixada, e movimentos e organizações defensoras dos direitos humanos, fazem questão de sempre lembrar o 31 de Março e a Baixada como uma data e um lugar que nunca podem ser esquecidos. Neste ano, como em 2010, os seis anos da chacina serão lembrados por uma caminhada que vai refazer o trajeto dos assassinos pelas ruas de Nova Iguaçu, naquela noite horripilante. A concentração será na Via Dutra, na altura da Besouro Veículos, às 15h da quinta-feira, 31/03/2011. À noite haverá uma missa em lembrança das vítimas.

Mais informações com Luciene, mãe de Rafael, uma das vítimas da Chacina, e militante pelos direitos humanos, no telefone 8640-6823.

Comissão de Comunicação da Rede contra a Violência.