NOVO MANIFESTO PELA FEDERALIZAÇÃO DOS CRIMES DE MAIO, E FIM DA "RESISTÊNCIA SEGUIDA DE MORTE"

terça-feira, abril 27, 2010

Consulado dos Estados Unidos

Foi preciso um órgão estrangeiro, no caso o Consulado dos Estados Unidos, para dar a devida proporção para a gravidade do caso, que orientou para que cidadãos americanos evitassem as cidades da Baixada Santista em razão das 26 mortes ocorridas nas duas últimas semanas.
Durante todos esses dias de ataques e execuções sumárias contra guarujaenses, vicentinos, santistas, praiagrandenses e cubatenses, nenhum prefeito da região se manifestou, mas foi só o consulado americano orientar seus cidadãos a evitar essas cidades que foi o suficiente para que os prefeitos e prefeitas ficassem derrepente indignados e lançassem críticas em repúdio ao consulado, classificando sua atitude como “lamentável”.
Lamentável sim era a declaração preconceituosa, elitista e desrespeitosa com as famílias das vítimas por parte da prefeita de Guarujá e dos prefeitos de Bertioga, São Vicente e Santos dizendo que os ataques não ocorrem em locais turísticos; que Guarujá seja rotulado pelo que não é; e que são “casos isolados”. Ou seja, a preocupação dos prefeitos é com a economia, turismo e imagem do municipio; não com a vida de seus munícipes.
Se 26 mortes em tão pouco tempo não são suficientes para os turistas evitarem a região, então mais quantas mortes seriam?
Afinal, se os próprios moradores da região evitaram sair às ruas devido à onda de medo, porque os turistas não fariam o mesmo. O consulado americano quer apenas proteger seus cidadãos, coisa que nossos governantes supostamente deveriam fazer com os seus.
Portanto, autoridades parem em respeito as famílias das vitimas de fazer declarações chulas e fazer comparativos com números com o intuito de mascarar a realidade.

Veja os links com a reportagem da TV Tribuna:

http://portaltvtribuna.grupoatribuna.com.br/videos/default.asp?video=1457&dt=27/04/2010&key=&urlv=&idCat=14


http://portaltvtribuna.grupoatribuna.com.br/videos/default.asp?video=1471&idcat=16 ,






Delegado do Deinter-6 diz que Polícia Civil não acredita em ação do crime organizado

Segunda-feira, 26 de abril de 2010 - 23h43

Por Renato Santana em A Tribuna Online.

O delegado diretor do Deinter-6, Waldomiro Bueno Filho, declarou nesta segunda-feira que a Polícia Civil não acredita em uma ação deliberada do crime organizado nos 23 assassinatos ocorridos na região na última semana. Para ele, a situação é semelhante aos Crimes de Maio de 2006.

“Essa última onda de terror tem muita relação com o que aconteceu há quatro anos. Muitas vítimas mortas com tiro na cabeça, além da coincidência dos autores encapuzados em motos”, disse.

Em maio de 2006, as ações dos grupos de extermínio tiveram início depois de uma série de ataques da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). No caso das mortes ocorridas neste mês, os assassinatos começaram quando um soldado da PM foi abatido em Vicente de Carvalho, Guarujá.

As semelhanças reforçam os indícios da participação de policiais nas ações encapuzadas. “Não quero acreditar em retaliação porque a polícia não é justiceira. Ela busca provas para apresentar”, afirmou o delegado.

Mesmo assim, Waldomiro explicou que a linha de investigação trabalha com todas as hipóteses. Inclusive a possível participação de policiais. Segundo o delegado, tanto a Policia Civil quanto a Militar já levantaram alguns suspeitos.

O deputado estadual Fausto Figueira (PT) esteve no gabinete do delegado, no Palácio da Polícia, colhendo informações sobre os recentes assassinatos. Para ele, de acordo com as características das ocorrências, trata-se de vingança de policiais militares. Da mesma forma que em 2006.

“Vou procurar o MP para que ele acompanhe os casos. Você tem mortes de policiais e em seguida execução. Esse é o perfil dos encapuzados. Não é comum”, disse. “Para mim é inaceitável um Promotor de Justiça reconhecer a existência de grupos para-policiais e encerrar o assunto. É meu papel como agente público cobrar o MP”, afirmou.

Confira a matéria completa na edição desta terça-feira em A Tribuna.

http://www.atribuna.com.br/noticias.asp?idnoticia=31547&idDepartamento=11&idCategoria=0






segunda-feira, abril 26, 2010

4 ANOS DOS CRIMES DE MAIO: QUEM PAGARÁ POR ISTO? (jornal A Tribuna)


Atenção: a partir do último domingo, na capa de A Tribuna, começou a ser publicada uma Série Especial sobre os 4 anos dos Crimes de Maio de 2006. Confiram abaixo, no site do jornal e na edição impressa. E parabéns ao repórter Renato Santana d'A Tribuna: pela seriedade, pela qualidade e pela coragem jornalística!

Infelizmente, os assassinatos continuam ocorrendo impunemente: na última semana foram mais de 23 pessoas assassinadas na Baixada Santista, a maior parte delas vítimas de execução sumária de agentes policiais e grupos de extermínio.

Firmes na Luta!

Mães de Maio


SÉRIE ESPECIAL (www.atribuna.com.br)

4 ANOS DOS CRIMES DE MAIO

QUEM PAGARÁ POR ISTO?


RENATO SANTANA

DA REDAÇÃO

A criança estava para nascer. Contava nove meses. Ia se chamar Bianca. No útero, o bebê tinha a mão esquerda perto do joelho esquerdo. Normalmente se sabe desses detalhes pela esperada ultrassonografia. Momento de felicidade para qualquer família. Era maio de 2006 e se soube disso por uma necropsia. Mão e joelho lesionados. Na esquina das ruas Campos Sales e Braz Cubas, Vila Mathias, em Santos, a mãe, Ana Paula Gonzaga dos Santos, conversava com Eddie Joey Oliveira num fim de noite do dia 15 de maio de 2006, três dias depois dos atentados do Primeiro Comando da Capital (PCC). Tinham 24 anos. Por volta das 23 horas, um carro escuro precipitou-se na esquina. Quatro pessoas saíram. Encapuzadas. Armadas. Eddie levou oito tiros. Dois nas costas. Outros dois nas mãos. Três no peito e um na cabeça, por trás. Ana Paula levou cinco. Um na lateral da cabeça. Um na parte posterior da coxa. Outro no braço esquerdo e mais um no abdômen. A morte do bebê foi notificada como "inviabilidade materna". Eddie tinha passagem por furto, sem condenação. O vigia de um posto de gasolina próximo assistiu ao crime. Foi morto na noite seguinte, depois de dizer para a mãe de uma das vítimas o que viu. O inquérito durou seis meses e seis dias antes de ser arquivado. A alegação é que os autores não foram identificados. Estão impunes. Controvérsias e novas revelações, no entanto, rondam esse e muitos outros crimes de autorias não tão desconhecidas nos bastidores de uma guerra particular que teve seu ápice em maio de 2006, como represália aos ataques do PCC.

BUSCA POR JUSTIÇA
A Defensoria Pública de Santos e São Vicente, detentora de seis inquéritos com nove vítimas, incluindo Ana Paula e Eddie, quer que todos esses casos sejam investigados pela Polícia Federal e julgados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Também, através de ações de indenização em nome dos familiares, que o Estado se responsabilize pelas mortes. As medidas serão tomadas entre este mês e maio. Nos dias seguintes aos atentados do PCC, grupos de extermínio, assim denominados pela Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo, Defensoria Pública e grupos de direitos humanos, encapuzados ou não, executaram sumariamente 142 pessoas. Nos boletins de ocorrências, as mortes são descritas como homicídio. No Estado, os registros são de 505 civis mortos e 97 feridos entre os dias 12 e 21 de maio. Aqui tomamos como base os dados de um estudo feito pelo Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Encomendado pelo Conectas Direitos Humanos, o estudo parte da análise de laudos cadavéricos e boletins de ocorrências do período da primeira onda de ataques do PCC. A semana sangrenta registrou 564 mortes, entre civis e agentes públicos. Na Baixada Santista, segundo dados da Polícia Civil, entre 12 e 20 de maio de 2006, foram 40 assassinatos por autoria desconhecida, além de 38 tentativas de homicídio e duas mortes em confronto policial a chamada resistência seguida de morte. Guarujá foi o terceiro no Estado em números gerais de óbitos: 29, ante 163 na Capital e 54 em Guarulhos. Há registros de ataques em Cubatão, Praia Grande e São Vicente.

Passados quase quatro anos, nenhum desses homicídios foi julgado. A falta de provas é a principal alegação da Polícia Civil e do Ministério Público. A Promotoria de Justiça recomendou o arquivamento dos processos, sem precisar quantos, mesmo depois de reconhecer a existência da ação de grupos de extermínio ou parapoliciais. O Poder Judiciário acompanhou as decisões e bateu o martelo pelo arquivamento. Caso o pedido de investigação federal seja negado, os inquéritos serão encaminhados para a Corte Interamericana de Direitos Humanos, ligada à Organização dos Estados Americanos (OEA). O órgão convoca o Estado brasileiro ao banco dos réus. O defensor público responsável pelos processos é o advogado Antônio Maffezoli. Há mais de um ano no caso, milita na área dos direitos humanos. Aponta que a polícia local, o Ministério Público e o Poder Judiciário, que acatou o arquivamento dos processos, não agiram direito. "Há falhas nos inquéritos. Analisamos todos, descrevemos cada caso e apontamos as falhas. São várias contradições e omissões", diz. Maffezoli justifica com três teses a ação judicial em nome das famílias: responsabilidade direta do Estado pelas mortes, devido aos indícios de participação de policiais nos grupos de extermínio; omissão do governo em garantir a segurança da população naqueles dias de ataques do PCC. Ao contrário, as autoridades políticas disseram que estava tudo sob controle e não coibiram as represálias atribuídas a seus policiais: "Várias autoridades reconhecem, inclusive o promotor de Santos", afirma o defensor. Por fim, que o Estado não fez a devida investigação dos crimes e punição dos culpados, violando o direito dos familiares à verdade e à justiça.

SEMELHANÇAS ENTRE OS CRIMES
A ação dos grupos de extermínio é homogênea. Foram praticados por pessoas encapuzadas, seja na região ou em outros municípios do Estado. Carros escuros, com vidros filmados, acompanhados de motos. "Na maioria dos inquéritos, uma viatura da PM passou minutos antes no local dos ataques", frisa Maffezoli. Nos anos 70, os esquadrões da morte operavam da mesma forma. Em baixa velocidade, os policiais olhavam quem estava no bar ou numa esquina. De repente, surgem os encapuzados, em motocicletas, os chamados ninjas. Tiros, execuções e recolhimento de cápsulas. Na sequência, o retorno da viatura. "Se a pessoa estiver morta, os policiais não podem mexer. Portanto, sempre alegam que a pessoa está viva porque aí eles tiram do local e alteram a cena, recolhem cartuchos. Estamos falando dos crimes de Santos, mas pelo que sei é assim em qualquer lugar", afirma o defensor público. A Defensoria e diversas entidades de direitos humanos presumem que policiais estejam envolvidos nos crimes. "Ainda não há nenhuma prova cabal. Num dos inquéritos, uma das testemunhas identifica a calça cinza, que muitos encapuzados trajavam, além do coturno da PM", relata. Houve uma situação em que o encapuzado levantou a touca e uma testemunha reconheceu o policial. Falou para a mãe de uma das vítimas. Na delegacia não se sentiu bem para depor. Para Maffezoli, não se sabe se a testemunha não falou porque o delegado não perguntou ou se foi medo mesmo.

ANTECEDENTES CRIMINAIS
O RG de Edson Rogério Silva dos Santos, morto com cinco tiros no dia 15 de maio, às 23h20, no Morro da Nova Cintra, foi consultado 20 vezes entre 23h55, minutos depois de ser assassinado, e 17h22 do dia 16. Nenhum dos policiais que trabalhavam na central naquela noite lembrou-se das pesquisas quando chamado para depor. As informações foram levantadas pela Defensoria Pública. Os policiais que pesquisaram o RG do jovem de 29 anos morto acharam uma condenação por roubo em 1997. Nove anos depois do delito, Edson trabalhava como gari. "Me pergunto como pode um criminoso, traficante ou ladrão, trabalhar embaixo de sol e chuva e ganhar pouco, catando lixo", questiona o defensor. Tal característica pode ser vista na página dois de todos os inquéritos. Quando a polícia conversava com familiares, seja no local do crime ou no pronto-socorro, a primeira pergunta era sempre essa: tem antecedentes? Maffezoli defende que é o tipo de informação irrelevante: "A polícia não tratou as pessoas como vítimas, mas como suspeitas. Se uma pessoa branca e de classe média cair no Gonzaga, bairro nobre de Santos, é tratada como vítima. Pardo, jovem e da periferia era desde o começo relacionado a dívida de drogas, acerto de contas. Teve inquérito arquivado por isso", afirma o defensor público.

OPINIÃO JUSTICEIRA
Para Maffezoli, a Polícia no Brasil sempre existiu, principalmente depois da abolição da escravidão, como forma de conter a camada mais pobre da sociedade. Para ele, justificativa para a extrema tolerância com os crimes de colarinho branco. "Fala-se muito em impunidade. É verdade. Ela existe para crimes fiscais, tributários, desvios de recursos públicos. A cadeia está cheia. De 1995 a 2010, dobrou o número de presos. Sabe quem são? 60% de furto, roubo e pequeno tráfico de drogas. Os grandes traficantes fazem acertos", define o defensor público. Para ele, os setores que precisam conter a violência dependem dessa opinião justiceira da sociedade. A velha tese de que bandido bom é bandido morto, criada em gestões públicas atreladas ao período da ditadura militar. Maffezoli frisa que identificar os autores dos Crimes de Maio e puni-los é uma tarefa reconhecidamente difícil. Sabe-se de apelidos de policiais, envolvidos nos grupos, tais como Bubu e Camarão, mas a PM geralmente isola o indivíduo para proteger a corporação. A intenção da Defensoria é a universalidade dos crimes e que o Estado pague pelo que fez.


"A responsabilidade das mortes é do Estado. Ele deve
investigar quem são os agentes que estão atrás das
máscaras".
Débora Maria da Silva, líder da Associação de Mães e Familiares Vítimas da Violência.

Quando a vida encontra sentido na luta

"O sangue do meu filho borbulha nos meus olhos 24 horas por dia". O sangue é de Edson Rogério Silva dos Santos e os olhos são de Débora Maria da Silva, líder da Associação de Mães e Familiares Vítimas da Violência. Ela aprendeu o significado da palavra impunidade sem abrir o dicionário. Segundo entidades de direitos humanos e Defensoria Pública, depois da ditadura militar, os Crimes de Maio representam um dos momentos de maior violência praticada pelo Estado na história recente do País.

RESULTADOS DA LUTA
Entretanto, a situação está clareando na opinião das Mães de Maio. Os debates e a militância na área dos direitos humanos têm dado visibilidade aos Crimes de Maio. Tanto que elas contribuíram na elaboração do 3ª Programa Nacional de Direitos Humanos(PNDH). "Estamos em busca da moral, da ética, da verdade, da democracia. Não podemos continuar sofrendo com a impunidade. Estamos gritando, a clamando por justiça", diz Débora. A participação das Mães de Maio na elaboração do PNDH ocorreu em todas as instâncias da Conferência Nacional dos Direitos Humanos. "A responsabilidade pelas mortes é do Estado. Ele deve investigar quem são os agentes que estão atrás das máscaras", pontua Débora. Ela teme pela própria vida, apesar da coragem em seguir na luta pelo desarquivamento dos processos. As ameaças que recebe não a fazem parar.

CRIMES CONTINUAM
As mortes causadas por gru- pos encapuzados aindaocorrem nas periferias da região, segundo Débora. Rogério Monteiro Ferreira, de 31 anos, é uma dessas vítimas. No dia 17 de março de 2007, num bar da Avenida Jovino de Mello, Zona Noroeste, em Santos, foi morto com quatro tiros. Todos de trás para frente, sendo um na cabeça. Execução. Rogério foi morto acuado entre máquinas de caça-níquel. Não pôde correr, como os amigos, porque o primeiro tiro foi na perna. "Ele era trabalhador, não tinha vícios. Estava tomando cerveja com os amigos. Mais nada", lamenta a mãe de Rogério, Rita de Cássia Nogueira. Apenas duas semanas depois foi chamada para depor no 5º DP, distrito onde o homicídio foi registrado. A tragédia desta mãe ainda teve outros desdobramentos. No dia 5 de maio do mesmo ano, seu outro filho, Alexandro Monteiro Ferreira, estava num bar e presenciou a ação de três homens encapuzados. Três mortes. No dia 25 de setembro, Alexandro foi abordado por uma viatura da PM enquanto ia comprar pão. Levado para o Morro da Nova Cintra, foi espancado por seis policiais. Um deles disse que ia matá-lo como fizera com o irmão. Alexandro foi preso na sequência do espancamento portando um tijolo de maconha. Os indícios analisados pela Defensoria apontam para o porte forjado da droga. Condenado, cumpre pena. Rita luta para provar a inocência de um filho e que o Estado pague pela morte do outro.


Garoto de ouro

Num antigo caminho cons- truído por escravos, calçado por pedras rústicas e disformes, no Morro Santa Maria, o canal portuário da Alemoa, na Zona Noroeste, periferia de Santos, parece seguir seu incansável vaivém de embarcações. Do alto, tudo aparenta normalidade na parte da cidade onde as mortes causadas por grupos de extermínio deixaram rastros de medo e dor. O caminho usado pelos escravos para chegar ao Quilombo do Jabaquara, no século 19, é o mesmo que Ricardo Porto Noronha, de 17 anos, fazia para chegar em casa. Deixou de fazê-lo na noite do dia 17 de maio de 2006 quando foi assassinado, com sete tiros, um na têmpora, por encapuzados. Não tinha passagem pela polícia. O rapaz era negro, tal como sua avó, Maria da Pureza de Araújo Noronha, que depois da morte do neto se viu sozinha no alto do Santa Maria, numa casa simples e repleta de recordações de suas perdas. Entre elas, a foto de Ricardo. Uma vida destroçada e mergulhada na impunidade. Dona Maria tem 88 anos. Sua história começa em Sergipe e termina com a morte do neto. Há cerca de 40 anos vive no Santa Maria. Naquela trágica noite, a avó atendeu ao pedido de Ricardo e cozinhou batatas com linguiça. O jovem se preparava para ir à escola, o Sesi. Estudava lá desde pequeno por conta de Dona Maria. Da casa dá para ver o colégio, na Avenida Nossa Senhora de Fátima. "Quando era pequeno eu o levava para o Sesi às 7 horas. O acordava às 6 horas, dava banho, arrumava. Quando era liberada mais cedo das roupas (as lavava para terceiros) ia buscar às 17 horas", conta Dona Maria. Ricardo passou a ser criado pela avó aos 3 anos, quando a mãe do menino o abandonou. O pai constituiu outra família e sumiu do morro. Ambos morreram antes do assassinato de Ricardo. A avó virara mãe. O neto, filho. E assim ambos se tratavam. As batatas com lingüiça foram o último mimo da mãe/avó. Duas horas depois um amigo de Ricardo subiu correndo o caminho dos escravos para avisar Dona Maria sobre a morte do neto/filho.

"Se eu fosse mais nova ia

atrás de quem fez isso com
meu neto".
Dona Maria, avó de Ricardo Porto Noronha.



"Não consigo mais viver sem o meu neto"

Dona Maria foi atingida pelas perdas logo no primeiro casamento. O marido morreu cedo. Quando se casou novamente, gerando o pai de Ricardo, vendia na Praça dos Andradas as bananas que cultivava no morro e os porcos de seu pequeno chiqueiro. Depois da morte de seu segundo marido, seguiu na batalha até perder as forças. Ricardo foi quem a socorreu. "Ele fazia tudo para mim. A morte dele foi a pior coisa que me aconteceu na vida. Senti mais que a perda do pai dele", lamenta dona Maria. A dependência era total. O rapaz fazia feira, cuidava dela quando ficava doente, comprava os remédios. Era ele que administrava sua aposentadoria de um salário mínimo. Não gastava um tostão sem antes consultar a avó. Ricardo estudava ejogava futebol. Duas atividades que desempenhava com louvor.Professores aconselhavam ojovem a estudar línguas, dada a vontadede Ricardoem fazer Senai para mexer com maquinários estrangeirosem obras estatais. Isso se osonho de serjogador não vingasse. Namanhã seguinteda morte do neto,dona Maria recebeuuma ligação do Santos Futebol Clube informando queo jovem passara numa peneira. "Meu menino não fumava, não bebia ou usava drogas. Era desses negros que gostam de se arrumar, ficar cheiroso e namorar", brinca. Há pouco tempo, o irmão mais novo de Ricardo, fruto do segundo casamento de seu pai, veio morar com dona Maria junto com a esposa grávida. O menino é menor de idade. Até então, vivia sozinha. Deixou de gastar a aposentadoria inteira com remédios graças a uma médica que lhe arrumou um atestado para pegar os medicamentos de graça. Uma enfermeira recebe sua aposentadoria e compra aquilo que for necessário. Dona Maria se alimenta mal, pois não é tudo que seu estômago aceita. "Eu queria ter ido no lugar dele. Lembro de uma vez que fiz uma cirurgia e ele disse que não sabia o que faria sem mim. Eu é que não sei agora", afirma. Na casa, Ricardo gostava de subir no alto de um morro do terreno para ver os navios e lamentava não poder jogar bola ali. "Se eu fosse mais nova, ia atrás de quem fez isso com meu neto", desabafa.


A Defensoria
Pública tentará, junto com a Justiça
Global, que os crimes sejam julgados na esfera federal.

Mesmo assim,
entrará com ação na Justiça regional.

Cronologia

>>Em 12 de maio de 2006, uma sexta-feira, começava a maior onda de ataques promovida por uma facção criminosa. O Primeiro Comando da Capital (PCC), em oito dias, articulou 373 atentados contra bases da Polícia Militar, agências bancárias, delegacias, viaturas e ônibus. Outras duas séries de ataques voltaram a acontecer em julho e agosto. >>Os atentados foram uma resposta do PCC a uma tentativa da polícia de isolar seus líderes em presídios de segurança máxima. No total, 765 presos foram removidos. Em o todo Estado, 24 unidades de detenção sofreram rebeliões. A população, em pânico, esvaziou as ruas e o comércio fechou as portas. >>O ano registrou também a famosa frase do então governador Cláudio Lembo, ao comentar prováveis razões da crise: "A elite branca precisa tirar a mão do bolso". Outra marca do período foram as inúmeras tentativas do secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, de abafar as ações de retaliação da polícia. A mando do secretário, laudos necroscópicos de vítimas chegaram a ser retidos.


Desespero

60%

foram na cabeça

"Na maioria dos
inquéritos, uma viatura da Polícia Militar
passou minutos antes no local dos ataques".

3000

disparos dados em 505 vítimas no mês de maio de 2006

142

é o número
de execuções cometidas por autores desconhecidos em todo Estado.

29

mortes
foram registradas em Guarujá de 12 a 21 de maio de 2006. A cidade foi a terceira do Estado nesse tipo de ocorrência no período.

"Pardo, jovem e da
periferia era desde o
começo relacionado a dívida de drogas,
acerto de contas".
Antônio Maffezoli, defensor público.

40

mortes de homicídio doloso
com autoria desconhecida ocorreram na região entre 12 e 20 de maio de 2006.

ALBERTO MARQUES
O PCC adotou como principal tática atingir bens públicos. Centenas de ônibus foram queimados

564

é a quantidade
de pessoas mortas, entre civis e agentes públicos, nos conflitos e ações encapuzadas de maio de 2006.
IRANDY RIBAS

20

é a quantidade
de consultas feitas no Copom, na noite do assassinato, ao RG de uma das vítimas dos grupos de extermínio .


Quem pagará por isto?


Depois dos ataques da facção criminosa que se autointitula Primeiro Comando da Capital (PCC), em 12 de maio de 2006, grupos de extermínio, com
fortes suspeitas de serem compostos por policiais, levaram o terror à periferia. Quase quatro anos depois, nenhuma morte foi esclarecida

sexta-feira, abril 23, 2010

Madres de mayo: La difícil democratización del estado genocida en Brasil


"El Estado extermina a los pobres, negros favelados porque es más fácil matarlos que darles educación y salud, porque para ellos los pobres sobran".


Raúl Zibechi | Programa de las Américas | 22-4-2010 a las 19:07
www.kaosenlared.net/noticia/madres-mayo-dificil-democratizacion-estado-genocida-brasil


"Mi hijo se llamaba Edison y tenía 29 años. Fue muerto en la calle, fue a casa a buscar medicinas y a cargar gasolina en su moto. Vivimos en la Baixada Santista, un barrio de trabajadores en Sao Paulo. Fue el 15 de mayo. Los policías lo siguieron y lo mataron a 500 metros de la gasolinera. Aunque hay contradicciones en las declaraciones, el Ministerio Público no hizo nada y archivó el caso", dice Débora María da Silva, una mujer mestiza de 50 años, madre de otras dos hijas.

Edison llevaba siete años trabajando en una empresa de limpieza, tenía un hijo, y estaba lejos del perfil del delincuente, pero su piel era oscura y vivía en un barrio pobre de la Baixada Santista, en el litoral del estado de Sao Paulo. El mismo día que murió Edison, el Primer Comando de la Capital (PCC), organización criminal de narcotraficantes, atacaba comisarías de policía y quemaba autobuses. "La ciudad estaba paralizada, parecía que había habido un terremoto", dice Débora.

La ola de violencia en la mayor ciudad de Sudamérica, con 20 millones de habitantes, comenzó el 12 de mayo después que el gobierno del estado de Sao Paulo trasladó a 765 presos a una cárcel de máxima seguridad ubicada a 620 kilómetros de la capital. Uno de los prisioneros trasladados era el líder del PCC, Marcos Williams Herba Camacho, alias Marcola, que dirigía la organización delictiva desde la cárcel. En tres días se produjeron 180 ataques a las fuerzas policiales y guardias penitenciarios, en los que murieron 39 agentes y 38 pandilleros, según estimaciones iniciales oficiales, y fueron incendiados más de cien autobuses y automóviles y una decena de sucursales bancarias.

Simultáneamente se registraron motines en 73 cárceles, que fueron declaradas en situación de rebeldía, de las 144 prisiones que hay en todo el estado. El diario conservador Folha de Sao Paulo alertó que en la morgue metropolitana habían ingresado muchos más cadáveres que los muertos que informaba el gobierno estatal: 272 cuerpos frente a 172 muertos oficiales. Eso hizo suponer que hubo decenas de asesinatos ilegales, que el diario atribuyó a encapuchados que seguramente serían policías. El 24 de mayo, cuando aún no había finalizado la represión, las autoridades admitían que de las 300 víctimas reconocidas sólo 79 tenían relación con el crimen organizado1.

Ese mismo día Amnistía Internacional aseguraba que estaban operando escuadrones de la muerte integrados por policías, cuyas víctimas "se sumarán a los cerca de 9 mil asesinatos perpetrados por la policía brasileña, en su mayoría categorizados como casos de 'resistencia seguida de muerte', sin investigación judicial, registrados entre 1999 y 2004"2. Muchos acusaron al gobernador Claudio Lembo. La revista financiera Exame, se quejaba de que la violencia genera gastos equivalentes al 10% del producto bruto interno. El presidente Lula fue uno de los primeros en poner el dedo donde duele: "El problema es la sociedad brasileña. Estamos recogiendo lo que fue sembrado en este país"3.
Ni justicia ni ley

"Algunas madres que teníamos hijos muertos por la policía, y que sabíamos que no tenían ninguna relación con el crimen, decidimos enfrentar al Estado porque es quien tiene el control de la seguridad. Como estábamos en período de elecciones, no querían mostrar debilidad y decidieron enfrentar la rabia de la población por las quemas de autobuses matando a los jóvenes pobres", dice Débora. "Cuando pude ver que las muertes de los jóvenes se producían todas de la misma forma y que eran todos trabajadores, empecé a buscar a las otras madres. Ellos banalizaron las muertes porque desde arriba les exigían números. Hice un trabajo de hormiga visitando las casas de las madres, muchas tenían miedo y no querían hablar".

En julio de ese mismo año se empezaron a reunir tres madres para visitar las delegaciones policiales, conocer motivos de las muertes y entrevistarse con las autoridades. Al cumplirse el primer año de las muertes, realizaron una manifestación y una misa con mil personas con pancartas que decían: "Bandidos son aquellos que matan inocentes". La mayor parte de los muertos vivían en la Baixada Santista. "El Estado archivó todos los casos y no procesó a ningún policía". Los números son muy claros: el estado admite que hubo 493 muertos por armas de fuego entre el 12 y el 20 de mayo, de los cuales el PCC mató a 47. "Por lo tanto la policía mató a 446 personas", concluye Débora.

Consiguió demostrar que la policía había mentido en el caso de su hijo Edison y puso en evidencia las contradicciones en el expediente policial. "Ellos decían que la radio policial estaba apagada pero yo demostré que eso no era cierto". Lo más doloroso, explica, fue que se le cerraron todas las puertas porque el Estado archivó todas las causas. Sólo le quedaba juntarse con otras madres, esforzarse por comprender una situación que la desbordaba y trabajar para que eso no volviera a suceder.

Primero decidieron llamarse Madres de Mayo y organizaron la asociación Madres y Familiares de Víctimas de Violencia de la Baixada Santista. Con el tiempo se les acercaron incluso personas afectadas por la dictadura militar, que no habían tenido fuerza para reclamar por sus familiares y cuando ellas aparecieron se animaron a denunciar lo sucedido décadas atrás. "Ahora somos 17 madres sólo en la Baixada y cuatro más en Sao Paulo. Ya tenemos grupos en trece estados que son familiares de afectados por la Policía Militar", dice con orgullo. Trabajan con la Red Contra la Violencia de Rio y con madres de Espiritu Santo, Minas Gerais, Belem, Pará, Acre y Pernambuco, entre los estados más importantes.

Cuando habla, aún cuando se agita, Débora encuentra cierta calma: "Nuestras reuniones son muy dolorosas, lloramos, tenemos mucha angustia porque la impunidad es lo que más duele, la gente crió un niño y se lo mata el Estado. Una madre no es muerte es vida. En las reuniones la gente no acepta lo sucedido, llora cuando ve una foto del hijo. Yo hago tratamiento para la depresión. Soy viuda porque mi marido murió de forma parecida a la de mi hijo…. Y tengo un hermano desaparecido". Por la forma como la escuchan en el Foro Social de Bahia, la de Débora parece ser la realidad de muchas familias brasileñas.
Gente que sobra

"El Estado extermina a los pobres, negros favelados porque es más fácil matarlos que darles educación y salud, porque para ellos los pobres sobran. Los chicos negros son los más vulnerables. La política de seguridad de este país es una política de exterminio, ellos prefieren cárceles a escuelas. A los jóvenes se les aplica una figura que es la resistencia seguida de muerte, o auto de resistencia, que no existe en el código penal", dice una Débora politizada por su experiencia de vida.

Sin embargo, no son sólo opiniones de una madre dolida. El libro "Crímenes de mayo" publicado seis meses después de los hechos por el Condepe (Consejo Estatal de Defensa de los Derechos de la Persona Humana, de Sao Paulo), una comisión independiente integrada por representantes del Ministerio Público Federal, el Consejo Regional de Medicina, la Defensoría Pública (Cremesp) y varias entidades defensoras de derechos humanos, llega a conclusiones similares a las de Débora.

Desiré Carlos Callegari, presidente del Cremesp, asegura que entre los muertos de mayo hubo mayoría de varones (96,3%) y de jóvenes (45% tenían entre 21 a 31 años; 16,5% entre 31 a 41 años). Cada muerto recibió un promedio de 5,8 disparos el día 15 de mayo. De los 493 muertos, 43 fueron víctimas de delincuentes (23 policías militares, 7 policías civiles, 3 guardias municipales, 9 agentes de cárceles y 4 ciudadanos comunes). Dicecisiete fueron presos rebelados y 109 murieron en enfrentamientos. Pero 87 fueron muertos por asesinos no identificados "con indicios de ejecución con participación policial"4.

El perito criminal Ricardo Molina de Figueiredo, miembro de la comisión independiente, analizó los casos rotulados como "resistencia seguida de muerte", o sea 124 muertos en la semana del 12 al 20 de mayo. El estudio de todos los casos revela: que la mayoría de los disparos afectó a las víctimas en regiones de alta letalidad; que los disparos fueron hechos a poca distancia; y que hubo una gran cantidad de "de arriba hacia abajo".

Eso le permite asegurar que "la combinación de estos factores apunta hacia una situación compatible con la ejecución y no con el enfrentamiento a tiros con movimientos de quienes disparan. En una situación de confrontación sería muy improbable que se dieran los tres casos señalados, lo que nos permite decir que hubo ejecuciones en el 60 a 70% de los casos analizados"5.

La Defensoría Pública de Sao Paulo dice más o menos lo mismo. Pedro Giberti, Subdefensor Público General, denuncia que hubo desviación de conducta y abuso de autoridad. Lo peor es que esos elementos "no se transformaron hasta el presente en denuncias, siendo sepultados en la fosa común del archivo, donde yace la impunidad"6.

Gracias a esta comisión y al trabajo de las Madres de Mayo, quedó en la opinión pública la convicción de que hubo muchas ejecuciones sumarias. La segunda conclusión, aportó el propio Estado: una vez más, ganó la impunidad. La cuestión es grave porque en Sao Paulo los asesinatos volvieron a subir luego de diez años de descensos. En 2009, mientras en la capital del estado el delito violento siguió descendiendo, en las periferias y en ciudades del interior y litoral la violencia sigue creciendo. En Baixada Santista en un solo año los asesinatos subieron un 37%7.

Un Estado genocida

Comprender cómo puede estar sucediendo todo esto en un país que aspira a ser un referente mundial, donde impera una democracia desde hace veinte años, que cuenta con un gobierno progresista como el de Lula y va a organizara los Juegos Olímpicos y el Mundial de Fútbol, demanda sondear en diversas direcciones.

Rafael Dias, de la ONG Justiça Global, cree que en Brasil existe un Estado genocida porque "nunca hubo una ruptura entre el Estado de la esclavitud y el Estado moderno, y tenemos ahora un Estado elitista que funciona a través de la violencia para apartar a los indios, los negros, los pobres, que son considerados como amenazas, como clases peligrosas"8. En su opinión, "es una cuestión de Estado, no de gobierno". Por eso no ha cambiado mayormente con el gobierno de izquierda instalado en 2003. "Ahora tenemos el modelo de militarización de las favelas, porque se sigue considerando al pobre como un enemigo permanente y ésa es la lógica de la seguridad pública".

La izquierda sigue tratando a los favelados como lumpen, personas que están fuera de la sociedad, dice Rafael Dias. "La izquierda no comprende la situación de los más pobres, porque como no están organizados en sindicatos ni en partidos, no forman parte del proyecto político de la izquierda y creen resolver el problema aplicando políticas compensatorias como Bolsa Familia. Estamos repitiendo los tres ejes que había durante la esclavitud, la triple P: pao, pau y pano"9.

Mauricio Campos es ingeniero y trabaja en la Red Contra la Violencia de Rio de Janeiro, que nació en 2003 durante una serie de movilizaciones de las favelas contra la violencia policial. "Nuestro trabajo consiste en acompañamiento jurídico a la gente que sufre violencia. La principal dificultad para trabajar en la favela es la violencia del Estado, el miedo, las masacres, ya que la gente que hace trabajo permanente está expuesta a las mismas amenazas que atemorizan a la población pobre"10. Cree que la masacre de Acari, en 1990 en Rio, donde mataron a once jóvenes, provocó un cambio en la sociedad ya que "fue la primera vez que hubo una gran reacción colectiva de los familiares de las víctimas".

Campos sostiene que no se puede eludir el problema de la "relación económica entre el crimen organizado y la policía, ya que los delincuentes no quieren que se haga ninguna denuncia contra porque ellos lo arreglan con propinas. Para los activistas sociales la policía es el primer problema, porque ellos siempre atacan a las organizaciones sociales". Y agrega que "la violencia contra los favelados viene creciendo porque la elite brasileña ha sido pionera en el mundo para atacar a los pobres antes de que se organicen. En otros países la violencia de las elites es reactiva, pero aquí es preventiva, porque tenemos una burguesía muy capaz, la más lúcida de América Latina que cuenta con un aparato de dominación como la Red Globo que usted no lo ve en otros países".

El gran problema del tráfico de drogas, en su opinión, es que "es un articulador de todas las actividades criminales, es un gran paraguas de toda la actividad ilegal". Por otro lado, el ascenso de luchas de los años 70 y 80, "fue zanjado con la represión bajo la dictadura, pero cuando retorna la democracia la represión directa se frena y se comienza con la criminalización de los pobres. Es un proceso incontrolable, porque el aparato policial tiene una autonomía increíble, al punto que ningún gobierno se atreve a enfrentarlo".

Este es uno de los puntos clave: el cambio social está vetado para la mayoría pobre, negra y joven. "Si hubiera un movimiento social potente, muchos de esos jóvenes dejarían de referenciarse en el crimen y se relacionarían con la lucha social. Los jóvenes son tragados por un proceso, ellos no eligen el crimen, simplemente está, y a veces quieren vengarse de la policía, porque no hay justicia, ni hay organización social, ni guerrilla, y la única salida es entrar al tráfico", concluye Campos.

No sólo los activistas sociales tienen este tipo de análisis. Vale la pena escuchar una de las voces más importantes del lado conservador, por boca de uno de los más altos cargos que debió enfrentar al crimen organizado en Sao Paulo, el gobernador Claudio Lembo.

El día que Lembo se despedía de su cargo, el 31 de diciembre de 2006, concedió una entrevista a Folha de Sao Paulo en la que habló sobre los agitados días de mayo. "En la crisis del PCC, figuras de la minoría blanca querían la ley del talión. Querían que se matase a todos, para preservarlos a ellos, los de la minoría blanca. Eso fue lo que más me irritó. Estábamos en un momento extremadamente difícil y teníamos que mostrar que el Estado puede vencer dentro de la ley. Me telefoneaban, y unos pocos vinieron a verme"11.

Lembo es un conservador que ahora pertenece al partido Demócratas (DEM) y que tuvo cargos ministeriales en Sao Paulo durante la dictadura militar. Consultado por la periodista sobre qué pedía la minoría blanca, fue claro: "Que la policía saliera a las calles, de noche, a realizar ejecuciones". Nunca dijo quiénes son esas personas que querían venganza, aunque nunca fueron directamente afectados por la violencia. Pero es claro que pertenecen a esa minoría de ricos que utilizan el Estado para su exclusivo beneficio.

En pleno conflicto, Lembo dijo que la violencia sólo terminará cuando la minoría blanca cambie su mentalidad. "Tenemos una burguesía muy mala, una minoría blanca muy perversa. La bolsa de esa burguesía va a tener que ser abierta para poder sustentar la miseria social brasileña en el sentido de crear empleos, de que haya más educación, más solidaridad, más diálogo y reciprocidad de situaciones". "¿En qué sentido son responsables?", pregunta la periodista. "En la formación histórica de Brasil. Cuando los esclavos fueron liberados, quien recibió la indemnización fue el amo, no los liberados como sucedió en Estados Unidos. Es un país cínico"12.

Si esto es lo que piensa y siente un hombre conservador, abogado y profesor universitario de casi 80 años, gobernador encargado de reprimir la delincuencia y de alguna manera miembro de esa elite que critica, ¿qué pueden sentir los jóvenes de 15 y 18 años, pobres, negros, desocupados, siempre perseguidos?

Débora lo explica a su modo: "El pobre no tiene derecho a llegar al poder. Eso es para los hijos de papá".


Notas

1. "Investigan actuación de grupos de exterminio en Sao Paulo", AFP y DPA, 24 de mayo, Sao Paulo.
2. Idem.
3. Agencia Reuters, Sao Paulo, 19 de mayo de 2006.
4. Agencia Carta Maior, Sao Paulo 17 de febrero de 2007.
5. Idem.
6. Idem.
7. Maes de Maio, http://maesdemaio.blogspot.com/.
8. Entrevista a Rafael Dias.
9. En portugués: pan, palo y paño (tela).
10. Entrevista a Mauricio Campos.
11. Folha de Sao Paulo, 31 de diciembre de 2006, entrevista de Mónica Bergamo.
12. Folha de Sao Paulo, 18 de mayo de 2006, entrevista de Mónica Bergamo.


Recursos

AMPARO (Associaçao Amparo de Maes e Familiares das Vítimas de Violencia

Observatorio das Violencias Policias-Sao Paulo: www.ovp-sp.org

Justiça Global: www.global.org.br

Maes de Maio: http://maesdemaio.blogspot.com/

Raúl Zibechi, entrevista a Débora María da Silva, Salvador, 30 de enero de 2010.

Raúl Zibechi, entrevista a Mauricio Campos, Salvador, 30 de enero de 2010.

Raúl Zibechi, entrevista a Rafael Dias, Salvador, 30 de enero de 2010.

Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violencia: www.redecontraviolencia.org/

terça-feira, abril 20, 2010

Onda de violência em Guarujá esvazia ruas e assusta moradores

A onda de violência em Guarujá está motivando a reação de internautas, que enviam relatos à redação de A Tribuna On-Line.

Entre a noite de domingo e a manhã desta terça-feira já ocorreram seis mortes.

A internauta Vanessa diz que na noite desta segunda-feira havia pouca movimentação nas principais ruas da Cidade. Ela informa que no local onde trabalha houve vários disparos, e que inclusive, um deles acertou um rapaz em frente à rede varejista Magazine Luiza. Também houve disparos na esquina do Colégio Napoleão, no bairro Jardim Maravilha.

“Aqui esta todo mundo com medo de sair e tomar uma bala perdida. A policia precisa fazer alguma coisa pra isso cessar”, diz.

“A Cidade parou. Espero que não voltemos ao ano de 2006, quando tivemos de ‘ibernar’ por conta da incompetência da política em nosso País”, relatou o internauta Clayton.

Assim como o internauta, a estudante Francielly também pede atenção das autoridades para que outras pessoas inocentes não sejam mortas. “Atenção autoridades!!! Olhem para dentro de seus estabelecimentos. Façam isso acabar! Dia das mães está chegando... Será que teremos mais um ‘11 de maio’?

“Onde estão as autoridades? Quantas pessoas inocentes terão que morrer para que a polícia faça algo? Pagamos por segurança. As crianças estão com medo de ir à escola e adultos, com medo de ir ao trabalho. Será que nossa Cidade tem que abaixar não só as portas como a cabeça, por viver com medo da falta de segurança”, relatou outro internauta, que não quis se identificar.

A estudante Jennifer também se queixa da falta de segurança no Município. “Estão confundindo o Guarujá com o Iraque. Espero que todos os moradores fiquem atentos e deixem seus portões trancados”.

“Moro no Bairro da Enseada e aqui estão todos atentos, meu marido trabalha em uma farmacia de Vicente de Carvalho. Meu desejo é que ele chegue em casa vivo”, relata a internauta Luciane.

“Passando pela avenida Santos Dumont, em Vicente de Carvalho, vi uma moto com dois rapazes encapuzados e falando para fechar os comércios. Isso está demais.A própria polícia está envolvida nisto, além dos marginais”, informou uma internauta que não quis ser identificada.

Uma estudante de Guarujá confirmou que na noite de segunda-feira não foram as faculdades que estavam dispensando os alunos e sim a própria Polícia Militar. “Vi muitas viaturas da Rota no caminho de volta pra casa. Hoje muitas escolas não tiveram aula. E a polícia fala pra gente que não está acontecendo nada. Um amigo meu disse que houve até ônibus queimado aqui. Vão mascarar isso até quando?”.

Toque de recolher

Na noite desta segunda-feira, o clima foi tenso em Guarujá e as ruas ficaram praticamente vazias após o assassinato de cinco pessoas na Cidade. A polícia nega o toque de recolher.

Na Vila Alice, a polícia fez uma operação e o patrulhamento foi reforçado durante toda a noite. Ônibus eram parados e alguns motoristas também foram revistados. Segundo a Polícia Militar, não foram registradas ocorrências entre a noite de segunda-feira e a madrugada desta terça-feira.

>> Envie seu relato para a redação de A Tribuna On-line, pelo e-mail digital@atribuna.com.br

Os policiais confirmam que a cidade ficou vazia. No entorno do Insitituto Médico Legal (IML), na Avenida Vereador Lydio Martins Correia, na Vila Zilda, ninguém também nas calçadas.

Escolas e comércios fecharam as portas mais cedo após terem recebido avisos de que correriam risco caso estivessem nas ruas durante a noite.

A Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp) suspendeu as aulas e o site da instituição trazia um comunicado sobre o adiamento de exames que seriam realizados nesta segunda. Segundo um morador do Pae Cará, que não quis ser identificado, alunos foram dispensados das aulas noturnas nesta segunda-feira e o comércio deveria fechar as portas às 18 horas.

Alguns estabelecimentos que costumam ficar abertos até mais tarde, como lan houses e bares, encerraram o expediente assim que escureceu.

(Publicado no jornal "A Tribuna On-line" - Terça-feira, 20 de abril de 2010 - 16h41 e atualizado às 18h53)

http://www.atribuna.com.br/noticias.asp?idnoticia=30667&idDepartamento=11&idCategoria=0

Suposto toque de recolher esvazia ruas de Guarujá após cinco mortes

O clima foi tenso em Guarujá e as ruas ficaram praticamente vazias após o assassinato de cinco pessoas na Cidade. A polícia nega o toque de recolher, mas na noite de segunda-feira havia pouca movimentação nas ruas das principais avenidas de Guarujá, como a Dom Pedro I e a Santos Dumont.

Na Vila Alice, a polícia fez uma operação e o patrulhamento foi reforçado durante toda a noite. Ônibus eram parados e alguns motoristas também foram revistados. Segundo a Polícia Militar, não foram registradas ocorrências entre a noite de segunda-feira e a madrugada desta terça-feira.

Os policiais confirmam que a cidade ficou vazia. No entorno do Insitituto Médico Legal (IML), na Avenida Vereador Lydio Martins Correia, na Vila Zilda, ninguém também nas calçadas.

Apesar de ser um suposto boato, o toque de recolher assustou moradores e comerciantes de Guarujá e Vicente de Carvalho na noite de segunda-feira. Escolas e comércios fecharam as portas mais cedo após terem recebido avisos de que correriam risco caso estivessem nas ruas durante a noite.


A Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp) suspendeu as aulas e o site da instituição trazia um comunicado sobre o adiamento de exames que seriam realizados nesta segunda. Segundo um morador do Pae Cará, que não quis ser identificado, alunos foram dispensados das aulas noturnas nesta segunda-feira e o comércio deveria fechar as portas às 18 horas.


Alguns estabelecimentos que costumam ficar abertos até mais tarde, como lan houses e bares, encerraram o expediente assim que escureceu. Um morador do Parque Prainha que também preferiu não revelar sua identidade classificou como absurda a apreensão que cidadãos ficam diante do medo e da violência. “Depois desses assassinatos que aconteceram, o cidadão de bem tem que ficar preso em casa. Tem gente com medo de voltar do trabalho e ser morto na rua.”


Onda de violência


Oito pessoas foram assassinadas na Baixada Santista, incluindo um policial militar, e duas baleadas, em Guarujá e Santos em um intervalo de nove horas e meia. Os crimes ocorreraram entre a noite de domingo e a madrugada de segunda-feira e a maior parte deles, cinco mortes e os dois baleados, foi em Guarujá.

Para a polícia, ainda é cedo para estabelecer relação entre as ocorrências. A primeira vítima de assassinato foi o soldado da Polícia Militar Paulo Raphael Ferreira Pires, de 27 anos. Lotado na Força Tática do 21º BPM/I (Guarujá, ele estava sozinho no seu Fiat Siena, quando foi assassinado na Avenida Santos Dumont, em frente à agência do Banco Itaú, no PaeCará.


Sem chance de defesa, foi atacado pelos dois lados do carro e, provavelmente, pelas costas, em razão das marcas de disparos na lataria. Na cena do crime foram achados projéteis de calibre 5.56 e outros fragmentos que serão identificados pela polícia.

(Publicado no jornal "A Tribuna On-line" - Terça-feira, 20 de abril de 2010 - 08h45)

http://www.atribuna.com.br/noticias.asp?idnoticia=30667&idDepartamento=5&idCategoria=0


Oito pessoas são assassinadas em Guarujá e Santos


Eduardo Velozo Fuccia


Cinco pessoas foram assassinadas em Guarujá entre a noite deste domingo e a madrugada desta segunda-feira, em Guarujá. Em Santos, um adolescente e dois homens também foram assassinados, elevando para oito o número de mortos na Baixada Santista.


Mal havia anoitecido no domingo quando um soldado da Polícia Militar foi abatido a tiros de fuzil enquanto dirigia o seu carro, durante horário de folga, em Vicente de Carvalho. A execução sumária, no entanto, foi apenas o prenúncio de outras quatro, além de duas tentativas de homicídio, que ocorreram nas horas subsequentes naquele distrito de Guarujá.

A onda de violência que atingiu a região, a começar pelo assassinato do soldado Paulo Raphael Ferreira Pires, de 27 anos, teve início às 18h45. Lotado na Força Tática do 21º BPM/I (Guarujá, ele estava sozinho no seu Fiat Siena, quando foi assassinado na Avenida Santos Dumont, em frente à agência do Banco Itaú, no Pae Cará.

Sem chance de defesa, foi atacado pelos dois lados do carro e, provavelmente, pelas costas, em razão das marcas de disparos na lataria.

Concentrada no lado direito do automóvel, a maior parte dos tiros acentua a ideia de que o crime se caracterizou por uma emboscada. O soldado Raphael chegou a ser levado ao Pronto-Socorro de Vicente de Carvalho, mas nada pôde ser feito, porque já estava morto. O delegado Carlos Topfer Schneider esteve no local da execução, onde recolheu dez cartuchos deflagrados de calibre 5.56.

Capaz de perfurar até a blindagem de carros-fortes, essa munição é utilizada em fuzil AR-15.

O Siena foi periciado no local do crime, sendo apreendido para análises mais minuciosas nesta segunda-feira. Durante o ataque ao policial militar, o Voyage de um técnico de informática, de 51 anos, também foi atingido. Segundo o motorista deste carro, ele estava parado em um semáforo quando houve os disparos. Porém, ele alegou nada ter presenciado em relação ao assassinato do soldado da Força Tática. Até o momento, não há testemunhas do crime.

(Publicado na edição online do jornal "A Tribuna" de Santos - Segunda-feira, 19 de abril de 2010 - 19h24)

http://www.atribuna.com.br/noticias.asp?idnoticia=30513&idDepartamento=11&idCategoria=0

quinta-feira, abril 15, 2010

ATE QUANDO???

Dois moradores de rua foram encontrados mortos na noite dessa quinta-feira (25), na Praça Kennedy, bairro da Mooca, zona leste de São Paulo. Segundo a polícia, os dois foram golpeados na cabeça.

As vítimas estavam em colchões em uma área arborizada. A polícia encontrou no local do crime uma barra de ferro, e apurou com outros moradores de rua que os dois estavam na região há cerca de 6 meses.

O boletim de ocorrência foi registrado no 8º DP (Brás), e será investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteçao à pessoa (DHPP).